TEXTO
CENTRAL
“Daniel, pois, quando
soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa (ora havia no seu quarto janelas abertas
da banda de Jerusalém), e três vezes no dia se punha de
joelhos, e orava [...].” (Dn 6.10).
PRÁTICAS
PARA A VIDA
Antes de ser leal ao
governo e à lei dos homens, o crente é fiel a Deus
e à sua Lei.
OBJETIVOS
•
CONHECER as
características do novo governo que Daniel estava submetido;
•
COMPREENDER como se deu
a conspiração contra Daniel;
•
APRENDER sobre a
diferença entre a Lei de Deus e a lei dos homens.
TEXTO BÍBLICO
Daniel 6.1-7.
1 — E pareceu bem a
Dario constituir sobre o reino a cento e vinte presidentes, que estivessem
sobre todo o reino.
2 — E sobre eles três príncipes, dos quais Daniel era um, aos quais esses presidentes
dessem conta, para que o rei não sofresse dano.
3 — Então, o mesmo Daniel
se distinguiu desses príncipes e presidentes, porque nele havia um espírito
excelente; e o rei pensava constituí-lo sobre todo o reino.
4 — Então, os príncipes e
os presidentes procuravam achar ocasião contra Daniel a respeito do reino; mas
não podiam achar ocasião ou culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava
nele nenhum vício nem culpa.
5 — Então, estes homens
disseram: Nunca acharemos ocasião alguma contra este Daniel, se não a
procurarmos contra ele na lei do seu Deus.
6 — Então, estes príncipes
e presidentes foram juntos ao rei e disseram-lhe assim: Ó rei Dario, vive eternamente!
7 — Todos os príncipes
do reino, os prefeitos e presidentes, capitães e governadores tomaram conselho,
a fim de estabelecerem um edito real e fazerem firme este mandamento: que
qualquer que, por espaço de trinta dias, fizer uma petição a qualquer deus ou a
qualquer homem e não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões.
INTRODUÇÃO
O capítulo 6 do
Livro de Daniel nos introduz a uma nova era política e governamental. Com a
queda do poderoso Império Babilônico, a cidade de Babilônia agora passa a ser controlada
pelos Medo-persas, também conhecidos como o
Império Aquemênida. Esta mudança de regime trouxe
consigo maior liberdade e tolerância religiosa. No entanto, mesmo sob um novo
regime, o profeta Daniel se depara com a maior provação de sua vida. Ele é confrontado com a pressão de abandonar sua devoção inabalável ao Deus Altíssimo. Nesta lição, estudaremos este relevante episódio, que nos trará valiosos
ensinamentos sobre a fidelidade a Deus diante do governo dos homens e de suas
leis, revigorando a importância da oração na vida do crente.
I. VIVENDO SOB UM NOVO GOVERNO
1. A identidade do
novo rei. O capítulo 6 começa com a descrição de um novo rei, que é chamado de “Dario, o
medo” (Dn 5.31). A identidade deste governante, mencionado outras vezes no
Livro (Dn 11.1), é uma questão debatida entre estudiosos,
diante do fato de “Ciro, o
persa” ter sido o conquistador da Babilônia (Is 44.28; 45.1) A Bíblia menciona que Daniel também serviu sob o seu comando (Dn 1.21; 10.1). Uma corrente diz que se
tratava da mesma pessoa. O entendimento majoritário, no entanto, compreende que
Ciro, após a sua conquista,
teria constituído Dario temporariamente como governante subordinado a ele.
Segundo John Lennox, essa ideia é apoiada
linguisticamente, pelo fato de Daniel dizer que Dario foi “constituído rei” (Dn
9.1) e que “ocupou o
reino” (Dn 5.31). Segundo a obra Contra a Correnteza, os relatos bíblicos também nunca se referem a Dario como rei da Média-Pérsia, mas apenas
como governante da Babilônia.
2. O novo governo. O
novo governante ficou conhecido por sua capacidade de manter a estabilidade
política em seu império. Também estabeleceu uma série de reformas
administrativas que ajudaram a estruturar o governo e a economia. O rei
organizou o império em satrapias, que eram províncias
administrativas com governadores nomeados por ele, os quais detinham autoridade
sobre os assuntos civis e militares de sua região. Acima deles, foram nomeados
três presidentes, também chamados
príncipes, incluindo Daniel (6.1-3). Eles tinham a responsabilidade de
supervisionar a administração do império e
garantir que as províncias fossem governadas de acordo com as leis e diretrizes
do rei. Eles eram responsáveis por relatar qualquer irregularidade ou
comportamento inadequado dos sátrapas.
3. Uma política de
tolerância religiosa. Ciro, o imperador, tinha uma política de maior tolerância
com os povos conquistados. Promulgou um código de leis conhecido como o “Cilindro de Ciro”, que promovia a justiça e a liberdade
religiosa, permitindo que vários grupos étnicos
praticassem suas crenças. O chamado Édito de
Ciro, também denominado como o “Decreto de
Ciro”, possibilitou que os judeus deportados pelos babilônios retornassem para
Jerusalém e reconstruíssem o Templo (cf. Ed
1.1-3).
Mesmo diante desse
ambiente de maior liberdade e tolerância, Daniel foi perseguido por suas
convicções. Isso mostra que, embora em muitos países os crentes tenham ampla
proteção jurídica de expressão de suas crenças, com previsão na Declaração
Internacional de Direitos Humanos, não estão isentos de serem constrangidos e forçados a relegar a fé. A previsão da liberdade religiosa na Constituição e nas leis não
garante que os cristãos não serão
discriminados e ofendidos, especialmente por causa de imposições ideológicas.
II. A
CONSPIRAÇÃO CONTRA DANIEL
1. A distinção de
Daniel. Em razão de sua excelência, Daniel começou a se
distinguir dentre os demais presidentes, razão pela qual o rei pensava em
promovê-lo. Isso mostra que Daniel, além de fiel e
zeloso nas questões religiosas, era
também um profissional qualificado e dedicado,
fazendo com que se sobressaísse em suas atividades. É necessário lembrar que o
trabalho, criado por Deus, é um elemento
importante na vida e pode ser uma forma de vocação divina. A Bíblia nos recomenda a fazer tudo conforme as nossas forças
(Ec 9.10) e para a glória de Deus
(1Co 10.31).
2. Inveja e
conspiração. Assim que o brilho de Daniel começou a ofuscar os demais, a inveja
brotou em seus corações. Infelizmente, isso é algo que ocorre com enorme frequência em qualquer ambiente e até mesmo entre o povo de Deus. Em vez de reconhecer a excelência do outro e
procurar aprender com ele, os invejosos preferem o caminho da destruição,
fazendo uso de fofocas, tramas e acusações caluniosas. Por isso, dentro dos
bastidores do poder do reino, os demais presidentes e governadores arquitetaram
um complô diabólico para acabar com
a imagem de Daniel perante o rei, procurando ocasião para difamá-lo. Contudo, a
Bíblia afirma que eles não encontraram qualquer coisa de que pudesse acusá-lo, “nem culpa
alguma; porque ele era fiel, e não se achava
nele nenhum erro nem culpa” (6.4). Lembre-se, jovem, de que quando se
está na presença de Deus, os inimigos não terão nada
para acusá-lo!
3. O plano contra
Daniel. Percebendo que não teriam nada contra Daniel, tendo em vista sua
conduta ilibada, os líderes mudam a estratégia e resolvem encontrar na “lei do seu Deus”
(6.4) algo que pudesse prejudicá-lo. Eles deixam de procurar na conduta e
passam a prejudicar Daniel com base em suas convicções. Para tal, os homens
perversos propuseram ao rei que fosse proibido em todo o reino, no período de
trinta dias, que se fizessem petições ou orações a
qualquer divindade ou homem, a não ser ao rei. A punição pela desobediência
seria o lançamento na cova dos leões.
A estratégia dos inimigos de Daniel em muito se assemelha aos secularistas
anticristãos, procurando centralizar no Estado a figura da divindade. Sem
dúvida, buscam de todas as maneiras restringir a manifestação das crenças e
punir a convicção dos cristãos. Na legislação e em decisões judiciais, surgem
novos entendimentos que procuram amordaçar a voz da igreja, abolindo não
somente a liberdade de crença, mas também a
liberdade de expressão.
Vivemos uma Era de
suposta tolerância. Todavia, enquanto todas as expressões são válidas e permitidas,
o Cristianismo cada vez mais é hostilizado por causa
da sua defesa de valores absolutos. É a intolerância dos
tolerantes!
III. A LEI DOS HOMENS E A LEI DE DEUS
1. Contrariando a
lei dos homens. Mesmo diante do decreto do rei, novamente Daniel não se
acovardou de dar testemunho de sua fé. Ainda que
fosse um alto funcionário e ocupasse um lugar de privilégio no império, Daniel não negou sua integridade e fidelidade a Deus. O servo de Deus
sempre fora obediente ao rei, porém, ao perceber que a
lei humana contrariava a lei divina, ele desobedeceria ao injusto mandamento,
fazendo exatamente aquilo que o decreto proibia: buscou ao Senhor em oração (Dn
6.10). Em primeiro lugar, Daniel sabia que Dario tinha autoridade, mas tinha ainda
mais convicção de que esta autoridade provinha de Deus (Rm 13.1). Em segundo
lugar, como um homem temente e bom cidadão, o profeta era cumpridor das leis
dos homens; contudo, ele não as cumpriria quando se chocassem com as leis de
Deus (At 5.29). Afinal, mais importante que a lei estabelecida pelo governo
humano é a Lei Natural revelada pelo Deus Altíssimo, imutável e atemporal, que não pode ser contrariada. Em terceiro
lugar, Daniel sabia que o Senhor estava com ele.
2. O poder da
oração. Diante daquele momento de provação, Daniel foi para o seu quarto buscar
a Deus em oração. Ele orou persistentemente, pondo-se de joelhos três vezes ao
dia. A oração deve ser um hábito na vida de todo aquele que busca intimidade e
resposta da parte do Senhor (Fp 4.6; 1Ts 5.17; Tg 5.16). Também, Daniel orou agradecendo a Deus, pois a verdadeira oração também se expressa por meio da gratidão. Não há vitória espiritual sem oração. Não há
crescimento espiritual sem oração. Como disse Martinho Lutero: “A oração é o suor da alma”. E quanto a você, jovem, como tem
sido a sua vida de oração? Lembre-se de que a primeira oração que Deus não
atende é aquela que nunca foi feita!
É interessante notar
que os amigos de Daniel, ao serem confrontados com a adoração da estátua (Dn
3), recusaram-se a negar sua fé por meio de uma ação específica. Da mesma forma, Daniel não estava
disposto a comprometer sua fé ao se abster da
oração. Isso ilustra que resistir aos desafios à nossa fé requer tanto evitar ações que contradizem a Palavra de Deus quanto
manter nossas práticas espirituais fundamentais.
3. Deus fecha a boca
do leão. Ao ser denunciado, mesmo a contragosto (6.14), o rei Dario mandou que
lançassem Daniel na cova dos leões, onde permaneceu durante a noite. Esse tipo
de punição, conhecida como execução por leões, era uma
prática esporádica que ocorria em algumas culturas antigas, não como uma regra
do sistema judicial. O rei estava angustiado e passou a noite em vigília,
preocupado com o destino de Daniel. Ao amanhecer, correu até a cova e, para sua surpresa, encontrou Daniel vivo e ileso. Deus havia
enviado um anjo para fechar a boca dos leões, protegendo Daniel! Diante da
provação e perseguição, o Senhor
efetuou um verdadeiro milagre, guardando a vida do seu filho.
A Bíblia também mostra que, no final, a justiça prevaleceu. Os conspiradores foram
punidos por suas ações malignas.
CONCLUSÃO
Ao enfrentar a
pressão de abandonar sua devoção a Deus, Daniel escolheu permanecer firme em
sua fé, continuando a orar diante das adversidades.
Em vez de ser leal ao governo, manteve-se fiel a Deus. Sua coragem e confiança
em Deus não apenas resultaram em sua proteção miraculosa na cova dos leões, mas
também demonstraram um exemplo eterno de como
podemos manter nossa integridade espiritual em face dos desafios culturais,
políticos e jurídicos de hoje.