TEXTO
CENTRAL
“Então, foi revelado o segredo
a Daniel numa visão de noite; e Daniel louvou o Deus do céu.” (Dn 2.19).
PRÁTICAS
PARA A VIDA
O sonho revelado a Daniel
mostra o mundo sobrenatural e que o reino de Deus não tem fim.
OBJETIVOS
• CONHECER as
circunstâncias do sonho de
Nabucodonosor;
• APRENDER com
a conduta de Daniel e a interpretação do sonho;
• CONTEXTUALIZAR a revelação de Deus em tempos de secularismo.
TEXTO
BÍBLICO
Daniel 2.1-5.
1 — E no segundo ano do
reinado de Nabucodonosor, teve Nabucodonosor uns sonhos; e o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o seu sono.
2 — E o rei mandou chamar os magos, e os astrólogos, e os encantadores,
e os caldeus, para que declarassem ao rei qual tinha sido o seu sonho; e eles
vieram e se apresentaram diante do rei.
3 — E o rei lhes disse: Tive um sonho; e, para saber o sonho,
está perturbado o meu espírito.
4 — E os caldeus disseram ao rei em siríaco: Ó rei, vive eternamente!
Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação.
5 — Respondeu o rei e disse aos caldeus: O que foi me tem
escapado; se me não fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis
despedaçados, e as vossas casas
serão feitas um monturo.
INTRODUÇÃO
Você já teve a experiência de ter um sonho e, na
manhã seguinte, não conseguir se
lembrar dele? O capítulo dois do livro de
Daniel narra o episódio no qual algo semelhante ocorreu com Nabucodonosor,
deixando-o atormentado. Porém, como veremos, não se tratava de um sonho comum. O
jovem Daniel foi convocado e, por revelação divina, deu tanto a descrição quanto
a interpretação do sonho, mostrando o plano de Deus para os governos mundiais.
Neste estudo também aprenderemos com as atitudes de Daniel diante de uma
situação de crise.
I. O
SONHO PERTURBADOR DO REI
1. Um sonho esquecido (2.1-5). No capítulo dois do livro em estudo, somos apresentados à primeira crise enfrentada por Daniel, que colocou ele e
seus companheiros em perigo. Tudo começou com um sonho perturbador que assolou
Nabucodonosor e o deixou sem dormir. Para agravar, no dia seguinte o rei não
conseguia se lembrar do conteúdo do sonho. Para nossa cultura, esse
tipo de esquecimento é comum, mas na superstição oriental da época, era considerado um mau presságio, indicando a ira das divindades. Por essa razão, o
rei ficou profundamente angustiado. A primeira ação do rei foi convocar um
grupo diversificado de conselheiros reais, que incluía magos, astrólogos, feiticeiros, encantadores e caldeus. Esses indivíduos eram especialistas em várias áreas do conhecimento e da ciência da época, incluindo previsões políticas, econômicas e sociais. No entanto, para realizar a tarefa que
lhes foi incumbida, eles precisavam de informações mais detalhadas, pedindo ao
rei a descrição do sonho. Para surpresa e temor desses conselheiros, eles
ficaram sabendo que a tarefa não se limitava apenas a interpretar o significado
do sonho, mas também a relatar o próprio sonho. Essa exigência era incomum e parecia absurda,
quase como uma brincadeira cruel, pois, se não fossem capazes de atendê-la, seriam condenados à morte. Diante dessa situação, foram forçados a pedir novamente: “Conte-nos
o sonho e daremos a sua interpretação” (2.7).
2. A impotência humana. Ao perceber que os peritos estavam tentando
ganhar tempo, Nabucodonosor reafirma sua sentença, ameaçando-os com a pena de
morte. Os caldeus, líderes da classe
sacerdotal, reconhecem sua própria incapacidade de atender ao pedido, pois se tratava
de algo extremamente difícil, senão impossível. Eles afirmam que nenhum
ser humano comum seria capaz de realizar tal feito, e que nenhum rei, por mais
poderoso que fosse, havia feito uma exigência
tão extraordinária. Eles não acreditavam naquele tipo de revelação.
Embora fossem peritos em diversas áreas do conhecimento,
possuíam uma visão eminentemente
naturalista. Precisavam de dados compreensíveis à mente humana, para que pudessem interpretar o sonho.
Apesar de acreditarem que os seus deuses tinham esse poder, não achavam que
eles pudessem comunicá-lo aos homens (2.11).
3. Daniel é chamado. Inflamado de
raiva, Nabucodonosor dá ordens para executar todos
os sábios do reino. Nesse
momento, Daniel e seus companheiros, embora não ocupassem posições de destaque,
estão entre aqueles que podem ser condenados à morte (2.13). Imagine-se na situação desses jovens.
Diante de uma crise iminente em que suas vidas estão em perigo, o que passaria
por suas mentes? Uma coisa é certa: eles não entraram em pânico! Mesmo cientes do risco, eles não permitiram que o
medo exagerado e paralisante os dominasse.
II. A CONDUTA DE DANIEL E A INTERPRETAÇÃO DO SONHO
1. As atitudes de Daniel.
Ao tomar conhecimento da sentença, Daniel adota algumas
medidas para lidar com a situação. Em primeiro lugar, ele busca compreender
melhor o que estava acontecendo, usando sabedoria e bom senso ao conversar com
Arioque, o oficial do rei (2.14,15). Em segundo lugar, ele vai ao rei e
solicita mais tempo (2.16). Nem sempre as questões se resolvem rapidamente, e
nem sempre Deus age de imediato. Além disso, o fato de o pedido ter sido aceito demonstra que
Daniel era uma pessoa de palavra e não estava simplesmente adiando o problema.
Em terceiro lugar, ele compartilha a situação com seus amigos (2.17,18). Isso
destaca a importância de termos amigos não
apenas para momentos de diversão, mas também para intercessão e apoio
mútuo. Em quarto lugar, eles
oram pedindo misericórdia. Os jovens estudantes pedem a intervenção divina. Você pode entender a importância desse ato? Em vez de desespero, eles se voltam para
o Senhor, reconhecendo que somente Ele é capaz de salvá-los. A oração do justo pode muito em seus efeitos (Tg
5.16).
2. Deus atende à oração. Como resposta à oração
dos jovens, Deus revela o mistério a Daniel em uma visão durante a noite. A seguir,
testemunhamos as nobres características desse jovem
exemplar em sua conduta:
a) Gratidão: A primeira
atitude de Daniel é expressar sua gratidão ao Senhor, reconhecendo e
exaltando sua soberania e bondade (2.20-23).
b) Bondade: Ao comunicar a
revelação ao oficial encarregado, Daniel intercede pela vida de todos os sábios da Babilônia (2.24). Ele demonstra
generosidade e não age de forma egoísta ou traiçoeira, mesmo em relação
aos incrédulos. Como crentes, não devemos retribuir o mal com mal
(1Pe 3.9; Rm 12.17).
c) Humildade: Diante do
rei, Daniel faz questão de enfatizar que há um Deus nos céus
que é capaz de revelar todos os segredos. Ele
não se vangloria nem busca se mostrar superior; pelo contrário, atribui todo o mérito a Deus, a fim de que
o rei possa compreender o significado do sonho (2.30).
3. A interpretação e a
recompensa. Daniel compartilha a descrição do sonho do rei, que envolvia uma
estátua assustadora. A estátua tinha uma cabeça de ouro puro, peito e
braços de prata, ventre e
quadris de bronze, pernas de ferro e pés feitos de uma mistura de ferro e barro. Subitamente,
uma pedra aparece, sem a ajuda de mãos humanas, e atinge os pés da estátua, fazendo com que ela se despedace completamente. A
pedra se transforma em uma grande montanha que preenche toda a terra. Cada
parte da estátua representa um reino
diferente, revelando o plano de Deus na história. O reino de Nabucodonosor,
representado pela cabeça de ouro, será sucedido por três outros reinos mundiais. Por fim, a pedra que destrói a estátua simboliza o reino de Deus, que é eterno e jamais terá fim (2.44). Após a explicação, o rei reconhece a veracidade da revelação.
Diz que o Deus dos jovens hebreus é o Deus dos deuses e o Senhor dos reis (2.47). Além de presentear Daniel, o
pôs como governador de toda
a província da Babilônia e chefe de todos os sábios da Babilônia. Os servos de Deus podem
alcançar posições de destaque na sociedade pela excelência de seus trabalhos e obediência à vontade do Senhor.
III. A
REVELAÇÃO DE DEUS EM TEMPOS DE
SECULARISMO
1. A infalibilidade da
Palavra de Deus. Um dos ensinamentos deste episódio é que a Palavra de Deus não falha. Estamos diante de uma
das mais notáveis profecias que se
cumpriu na história, numa referência aos impérios que vieram logo
depois do Império Babilônico: Império Medo-Persa, Império Grego e Império Romano. Muitos anos depois
(capítulo 7), o próprio Daniel terá uma visão que irá retratar as mesmas
realidades históricas desta revelação, conforme estudaremos
detalhadamente na décima lição. Até mesmo os críticos da Bíblia têm dificuldades para explicar como isso ocorreu, afinal, é algo sobrenatural. Daniel
não fez previsão e calculou probabilidades a partir de dados conhecidos. Ele
ouviu a voz de Deus.
2. O secularismo
racionalista. Este episódio coloca em discussão, no mundo atual, a existência de um tipo de revelação além da
razão humana. O processo de secularização
iniciado a partir do Iluminismo procurou afastar a religião da esfera pública. No seu cerne está o secularismo, uma ideologia que parte da descrença na revelação divina de verdades aos seres humanos,
restando somente os elementos fornecidos pela razão. Essa é a perspectiva adotada por
ateus e céticos que insistem em desprezar a fé, sob o entendimento de
que o universo é um sistema fechado de causa e efeito, sem espaço para o sobrenatural. Somos levados a entender que os
consultores do rei tinham essa mesma linha de pensamento. Apesar de religiosos,
não acreditavam em uma revelação divina plena. Suas divindades não se
comunicavam com os seres humanos. Nossa época parece presenciar algo semelhante.
3. A revelação e o
sobrenatural. Antes de tudo, acreditamos em um Deus que se revela, e revela
seus planos ao homem, seja de forma geral (Sl 19) ou especial (Hb 1.1-3),
incluindo sonhos e visões (Is 1.1; 6.1; Ez 1.3, Ap 1.1). O favor de Deus sobre
a vida do profeta mostra que a fé bíblica sabe conciliar a revelação sobrenatural com a razão. Como observou John Lennox, “Quando Deus revelou o
assunto a Daniel, não suspendeu o uso da razão por parte do jovem. Daniel teve
de usar a razão para entender as palavras que Deus lhe disse e formular a sua
resposta a Nabucodonosor”, que por sua vez precisou
usar a razão para ver que a interpretação fazia sentido. Sem abrir mão da
revelação, o crente faz uso de uma racionalidade concedida por Deus (Rm 12.1;
1Pe 2.2), que opera em um nível além da compreensão humana. É uma racionalidade que não negligencia
o sobrenatural, pois tem a certeza de que Deus está agindo no seu próprio mundo criado.
CONCLUSÃO
O mesmo Deus que
graciosamente revelou a Daniel o sonho do rei e a sua interpretação, é o mesmo Deus que continua a revelar-se em nossos dias.
Assim como Ele mostrou sua sabedoria e poder na vida de Daniel, Ele ainda hoje
demonstra sua presença e cuidado por meio de
suas revelações. Podemos buscar a Deus em oração, meditar em sua Palavra e
estar atentos à sua voz sussurrada em
nosso coração.