TEXTO
CENTRAL
“E o chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, a saber: a Daniel pôs o de Beltessazar, e a Hananias, o de Sadraque, e a
Misael, o de Mesaque, e a Azarias, o de Abede-Nego.” (Dn
1.7).
PRÁTICAS
PARA A VIDA
Manter a identidade cristã em uma cultura hostil é a principal prova de
fidelidade ao Senhor.
OBJETIVOS
•
DESCREVER a submissão
dos jovens hebreus ao ensino na Babilônia;
•
CONSCIENTIZAR sobre os perigos da relativização de valores e da
desconstrução de identidades;
•
PROPOR
ensino para hoje, considerando o exemplo de Daniel e seus amigos.
INTRODUÇÃO
Desde o início do exílio na Babilônia, os jovens hebreus se depararam com a ameaça de perderem suas identidades, à medida que poderiam gradualmente assimilar os valores da
nova terra. Esta lição tem como foco principal o estudo das duas estratégias empregadas pelos
babilônios para minara
identidade piedosa dos jovens hebreus: a imersão na cultura e língua caldeia, bem como a mudança de seus nomes. Como veremos, a narrativa bíblica nos oferece valiosas lições sobre conservar nossa
identidade espiritual e nossos princípios, especialmente diante
da doutrinação ideológica presente atualmente
na educação secular.
I.
HEBREUS NA “UNIVERSIDADE” DA BABILÔNIA
1. Na universidade da Babilônia. O rei ordenou a Aspenaz, oficial da corte, que os
jovens recém-chegados deveriam ser instruídos sobre a cultura e a língua dos caldeus, ao longo de três anos. Não era mera generosidade. Esse método fazia parte da estratégia de Nabucodonosor de
incorporar os povos conquistados ao seu serviço real. Concluído o curso de imersão eles
também
teriam emprego garantido, se aprovados no teste final. Isso parecia uma grande
oportunidade para Daniel e seus amigos crescerem acadêmica e profissionalmente no novo mundo. Após terem sido selecionados
pelo “vestibular”
babilônico, demonstrando conhecimento suficiente, os quatro
jovens estavam sendo matriculados na “Universidade da Babilônia”, onde seriam treinados na nova cultura e nos seus
costumes. Segundo os padrões da época, o programa de estudos era abrangente, envolvendo
todas as letras e sabedoria (v.17). Teriam aulas de matemática, ciência, astronomia, navegação, política, história, geografia e religião, certamente.
2. O ensino caldeu. Os caldeus possuíam um padrão de ensino desenvolvido. Foram pioneiros nos
estudos da astronomia e responsáveis pelo avanço da matemática. Eles também dominavam a escrita
cuneiforme, usada para registrar Leis, negócios e eventos históricos. Por outro lado, o
ensino caldeu era impregnado de astrologia e misticismo, formando os seus
magos, encantadores e feiticeiros (Dn 2.2). Desse modo, ao serem introduzidos
na educação daquele povo, os jovens hebreus estavam adentrando a um mundo
totalmente diferente. Corriam o risco de aculturação, isto
é, a
perda da cultura e das crenças hebraicas, por meio da
assimilação e acomodação à cultura
dos caldeus. Isso fazia parte do plano de Nabucodonosor. Porém, os jovens traziam em
suas mentes e corações os ensinamentos que haviam recebido em Jerusalém. Não recusaram
o plano de estudos, pois estavam preparados em termos espirituais, morais e no
conhecimento das Escrituras para rejeitarem a doutrinação babilônica.
3. Discernimento diante da estratégia inimiga. Nabucodonosor
era um conquistador violento, mas não era um bárbaro em termos de conhecimento. Ele tinha consciência da importância da formação cultural como estratégia velada de reeducação e ressignificação
das ideias na mente dos exilados, especialmente dos jovens. Afinal, o Inimigo é astuto, e procura
trabalhar na mentalidade das pessoas desde tenra idade, sem usar métodos violentos, mas pedagógicos. Esse mesmo modo de
operação se repete hoje, quando os inimigos de Deus tentam deturpar os valores
das crianças, adolescentes e jovens.
Assim como Daniel e seus amigos, é preciso ter uma mente protegida pela Palavra do Senhor e
um coração sábio (Sl 119.11,12) para
aprender o que for útil, e rejeitar todo
conhecimento humano que perverte a verdade de Deus.
II. DA RELATIVIZAÇÃO DE VALORES À DESCONSTRUÇÀO
DE IDENTIDADES
1. A
relativização da verdade. Caso assimilassem o padrão
moral da religião dos caldeus, os jovens hebreus estariam a aceitar a
relativização da verdade. Afinal, o relativismo pode se propagar tanto pela
imposição, quanto pela destruição sutil dos referenciais éticos na cultura. Nos dias atuais, a primeira forma
ocorre quando se procura legalizar concepções politicamente corretas, pela
proibição de discursos, limitação do acesso à informação e outros mecanismos que restringem a liberdade de crença e de expressão. Por essa razão, em muitos lugares do mundo, cristãos
enfrentam resistência na pregação do Evangelho. Em
diversos países, a defesa de convicções e valores
morais que decorrem diretamente da fé é considerada crime. O relativismo, por
mais antagônico que seja, não tolera a defesa de qualquer absoluto, nem mesmo na
esfera da religião. Na presente Era tudo se dilui e é adaptável, segundo os sociólogos essa época pode ser chamada de “modernidade líquida”.
2. Desconstruir
identidades. A segunda forma de disseminação do relativismo é sutil. Ela se dá pela desconstrução dos referenciais que levam à perda da identidade. O que é identidade? É aquilo que
define e dá significado às nossas vidas. Nós, cristãos, por exemplo,
temos uma identidade bíblica, que expressa nossa
origem, crenças essenciais e a ética que professamos. Isso
nos caracteriza e nos distingue. Foi o caminho da desconstrução que a Babilônia adotou com os jovens hebreus, ao trocar os seus nomes
(Dn 1.7). Ao fazer isso, Aspenaz, em consideração ao rei e seus deuses pagãos,
intencionava fazer uma lavagem cerebral em Daniel e seus companheiros.
3. Novos nomes, a mesma
identidade. Naquele tempo os nomes pessoais tinham imenso valor e significado,
especialmente para os judeus, que o entendiam como uma expressão da personalidade
e do propósito de vida de alguém. Seus nomes foram
mudados para que a Babilônia pudesse apagar de seus
corações e mentes suas origens. Pretendiam substituir o Deus verdadeiro pelos
deuses do paganismo, com o propósito de mudar seus referenciais e identidades. O próprio nome de Nabucodonosor
era uma referência às divindades pagãs. Na língua acadiana Nabu-Kudurri-Usur significava “Nabu é o meu protetor”.
Com isso, Daniel que
significa “Deus é meu juiz”; deram-lhe o nome
Beltessazar, “Bel protege o rei”.
Hananias “Deus é gracioso”; chamaram-lhe de
Sadraque, “Iluminado pelo sol”. Misael significa “Quem é como Deus?”; foi chamado de Mesaque. “Aquele que pertence à deusa
Sesaque”. Azarias significa “Deus ajuda”, deram-lhe o nome de Abede-Nego, “Servo do deus Nego”. Embora não pudessem
impedir tal mudança, isso não fez a menor
diferença em suas vidas. A forma
como passaram a ser chamados não entrou em seus corações. Os novos nomes
sociais não mudaram suas verdadeiras identidades e muito menos aboliram a
centralidade de Deus.
III.
ENSINOS PARA HOJE
1. Fidelidade nas escolas
e universidades. O fato de os jovens hebreus terem passado pela faculdade babilônica e saído
de lá formados e aprovados com
louvor (Dn 1.17-20), mantendo a integridade e fidelidade ao Senhor, tem muito a
nos inspirar hoje. Sobretudo, eles souberam proteger seus valores contra o
ensino da época. Atualmente, a educação secular encontra-se igualmente
carregada de ideologias nocivas, que procuram suplantar a educação clássica e os valores cristãos. Valendo-se de pensadores
secularistas, agnósticos, ateus e alinhados a ideologias anticristãs,
muitos professores fazem uso de um ensino relativista. Muitos centros
educacionais são locais hostis aos cristãos, em virtude do ambiente e do conteúdo ensinado. Não raro, os crentes são pressionados a
abandonar suas “crenças ultrapassadas”, aceitar a “ciência” e deixar as coisas da fé para trás, ou confiná-la ao ambiente privado.
Isso decorre do Secularismo. O exemplo de Daniel e seus amigos nos mostra que é possível enfrentar esse ambiente, estando previamente
preparados para responder sobre a razão da nossa esperança (1Pe
3.15).
2. Retendo o que é bom. Nem tudo aquilo que
os jovens hebreus aprenderam era negativo e ofensivo à fé em Jeová.
Durante os três anos de estudo, como
vimos, eles foram instruídos em diversas áreas do conhecimento humano. Grande parte desse conteúdo era importante, pois lhes proporcionava habilidades e
competências intelectuais. O próprio registro bíblico enaltece, ao final do período, a aquisição de conhecimento e a inteligência de Daniel em todas as letras e sabedoria (Dn 1.17).
Este fato é um forte indicativo de que podemos aproveitar o
conhecimento e a sabedoria não tipicamente religiosa, desde que não contrarie a
verdade de Deus. Daniel não
demonizou toda a cultura da Babilônia e o ensino dos
caldeus. Com muita sabedoria, comparou aquilo que os seus professores
ensinavam, com o que havia aprendido de seus pais e líderes de Judá. Ele usou um filtro para
aproveitar o que era bom e rejeitar o que era nocivo (1Ts 5.21). De idêntica maneira, o jovem cristão pode, e deve, valorizar o
estudo secular, pois além de proporcionar conhecimento, serve para a formação
profissional e para o mercado de trabalho, área na qual o crente pode ser usado por Deus e fazer a
diferença. O segredo é submeter tudo ao crivo das
Sagradas Escrituras (2Co 10.5; At 17.11).
3. Mantendo a identidade
em tempos pós-modernos. Tal como fez Aspenaz, o mundo procura meios
de mudar a identidade do cristão. Em tempos pós-modernos, onde falta firmeza
e consistência moral e espiritual,
existe uma estratégia diabólica de perda de sentido e significado. O espírito desta época procura seduzir os crentes da desnecessidade de uma
identidade própria, dada por Deus, tratando isso como algo
ultrapassado. O mundo fala em “abrir” a mente, “flexibilizar” as convicções e “desconstruir” as tradições arcaicas. Em
cada área da vida se percebe a
estratégia
de “mudança de nomes”. A ideologia de gênero procura destruir a
identidade sexual. O sincretismo busca acabar com a identidade religiosa. O
relativismo se propõe a desfazer a identidade moral. Como nunca, a forma de
proceder dos jovens hebreus serve como modelo de bravura e resistência aos ímpetos de destruição identitária. Podem até mudar o nosso nome, mas não
conseguem mudar quem somos: cristãos. Aqueles que creem e vivem em Cristo (At
11.26).
CONCLUSÃO
Como vimos, as escolhas e
determinação de Daniel e seus amigos nos instigam a manter nossa identidade
espiritual e nossos princípios, mesmo quando
enfrentamos desafios que ameaçam desviar-nos do caminho
da verdade. E preciso resistir sabiamente, pois sabemos em quem temos crido
(2Tm 1.12).